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20 de outubro de 2011

Mestres da National Geographic (por Juan Esteves)

        A National Geographic Magazine é uma revista centenária, principal divulgadora da National Geographic Society, fundada em 1888. Seus editores estimam que seu público chegue a 325 milhões em todos continentes do mundo. Embora suas primeiras edições não trouxessem imagens, há décadas a revista é uma das maiores referências quando se fala de fotojornalismo, o que contribuiu e muito para que surgissem os livros temáticos, como este Mestres da Fotografia, da série de mesmo nome, publicado em julho de 2011 no Brasil, selecionando 4 de seus renomados fotógrafos.

          O livro traz verdadeiras lendas da imagem contemporânea documental: David Doubilet, Michael Nichols, Steve McCurry e Michael Yamashita, preenchendo quase 500 páginas com belíssimas imagens e notáveis depoimentos, cobrindo os quatro cantos do mundo nas mais possíveis formas de se olhar: das fotografias submarinas às aéreas, dos animais selvagens aos mais exóticos seres humanos, das paisagens mais incríveis aos mais complexos centros urbanos. Tem imagem para todos os gostos.

© David Doubilet

         O novaiorquino Doubilet tem 65 anos e começou a mergulhar e a fotografar quando tinha apenas 12 anos de idade quando usava uma câmera Brownie Hawkeye com uma caixa estanque improvisada. Ele cresceu nas costas de New Jersey e do Caribe, nas vizinhanças da Baía da Esperança, nas Bahamas e deve ter mais horas sob a água do que na superfície. De lá para cá, mergulhou nas águas da Escócia, Tasmania, Japão, Atlântico Norte, e até mesmo em rios africanos. Suas composições submarinas não se limitam aos registros, mas criam novas formas e realizam uma poética única em imagens do gênero.

         Michael Yamashita é também americano da Califórnia, mas por sua descendência se especializou na Ásia, produzindo grandes matérias sobre o Rio Mekong, no Vietnam, ou refazendo a trilha do explorador italiano Marco Polo na China, a Grande Muralha, aspectos da cultura japonesa e coreana, que vão dos mercados de peixe a cultura dos samurais. É sem dúvida o mais contemplativo dos quatro fotógrafos.

        Já para Nichols, de 58 anos, nascido no Alabama, sudeste americano, a natureza e os animais não criam limites para seus enquadramentos e composições fotográficas. Para ele todo equipamento e ângulo é válido, pode ser uma imagem de um gorila no meio do mato com um flash, um hipopótamo passeando na beira do mar ao entardecer, elefantes brigando entre si, ou um detalhe assustador de um rabo de um enorme jacaré. Ele tanto pode fotografar dentro de um avião, quanto mergulhando num rio, no meio do mato ou plantado em cima de uma gigantesca árvore. É um fotógrafo que subverte qualquer norma e consegue um resultado sempre espetacular.

© Michael Nichols

          Com 60 anos, o também americano Steve McCurry talvez seja o mais popular do grupo. Autor da célebre imagem da mulher afegã de olhos verdes, que correu o mundo, é um fotógrafo cuja sensibilidade se dirige ao registro do humano, que pode ser feito tanto no Afeganistão como na China, em Bangladesh ou no Japão. De uma imagem que documenta uma tribo urbana ele se desloca para uma celebração noturna num cemitério nas Filipinas. Assim como Yamashita, é um fotógrafo sem fronteiras.

© Steve McCurry

          Há cerca de 15 anos atrás, a National Geographic, que ainda predominantemente usava filmes, publicou uma reportagem sobre seus fotógrafos por conta do filme As pontes de Madison uma obra de ficção com Clint Eastwood no papel do fotógrafo Robert Kincaid. A ideia era mostrar a milhares de leitores, a vida real de um fotógrafo da revista. E lá estavam eles, cobertos por mosquitos, debaixo de chuva, no meio da lama, bem diferentes do sedutor ator que no filme trabalhava para a revista. Na reportagem, estimavam que eram produzidas 1,6 milhões de imagens por ano, sendo aproveitadas apenas 1600 nas revistas.

         Com esses excepcionais portifólios publicados em quase 500 páginas, o livro dá realmente uma amostra mínima do que foi produzido nessas décadas em que a fotografia mudou tanto tecnicamente. No entanto as imagens escolhidas são significativas no mais amplo range da qualidade técnica e artística em prol da informação e do documental. Um patrimônio produzido por quatro profissionais cuja passagem pelo tempo só fez melhorar sua capacidade de fotografar e surpreender.

* Publicado originalmente na revista Fotografe Melhor de setembro 2011 e ajustado para este blog.

Abraço
Thiago Borba
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